Recomeço… Como?
É . Parece que de repente o castelo que fora construído está todo no chão. O que fazer? Será que era mesmo um castelo? E agora, como reconstruir a vida? De onde começar?
Talvez esta seja a pergunta mais difícil de ser respondida.
A separação é algo que nunca passa pelas nossas mentes quando nos casamos cheios de sonhos. Na verdade, ninguém se casa pensando em se separar. Todos sabemos disso.
Mas quando este dia chega e todas as dores que ele traz, é necessário encarar estas dores de frente. Muitas pessoas não conseguem fazê-lo e por isto vivem de um relacionamento para outro, de uma procura para outra, de uma entrega para outra. Uma busca sem fim, andando em círculo e na verdade não se caminha um passo para frente.
Entendo que, por mais opaco que seja este momento, em que não se vislumbra nenhuma esperança de vida, e quando também vergonha e culpa estão em todo o lugar para onde olhamos, esta é a hora de parar tudo. Parar para olhar para dentro. Não o olhar de vítima ou de bem merecedores do que estamos passando. Não. Um olhar que talvez há muito não temos dirigido para a nossa alma.
Não é o momento dos “porquês”.
É o tempo de identificar quem realmente somos. Quem éramos quando nos casamos com aquela pessoa? O que queríamos da vida? Quais eram as expectativas que foram frustradas desta maneira? Onde ficou o nosso “eu”? Sim, porque muitas pessoas, com o passar dos anos de um casamento sofrido, perdem por completo a identidade. Já não sabem mais o que são, do que gostam e quais os sonhos que tiveram um dia na vida.
Estas foram algumas das perguntas que fiz a mim mesma naqueles dias difíceis. Mas, quando parti em busca das respostas, entendi que não poderia consegui-las sozinha. Por isso decidi que precisava conhecer a Presença de Deus na minha vida para aquela situação. “Ao meu coração me ocorre: buscai a minha presença”(Salmo 27:8). Este se tornou o meu alvo. Mergulhei na Palavra de Deus procurando conhecê-Lo de novo. Queria a Sua Presença! Sabia, no fundo do meu coração, que não poderia responsabilizá-lo pelo que acontecera. Pelo sonho de menina que ao longo dos anos fora se desmanchando. Estava tudo no chão.
Presença de Deus. Custe o que custar! Era tudo o que eu queria. As pessoas amigas que estavam por perto, por mais que se solidarizassem, não alcançavam a dor do meu coração. Eu estava sempre só. E assim deveria enfrentar tudo. No entanto, com o passar dos dias, com uma busca disciplinada através de estudo da Bíblia e oração (mesmo quando não tinha o que dizer ao Senhor) o meu coração começou a experimentar, de maneira lenta , mas concreta, o prazer de estar na Presença do Senhor. O que é busca disciplinada? Eu entendo que é algo que não se deixa levar por urgências do cotidiano. Muitas vezes o urgente toma o lugar do que é prioritário na nossa vida. E quando percebemos, já não temos tempo para o que é realmente essencial e que gera vida.
As respostas que, aos poucos, fui encontrando trouxeram paz. Consegui ver quais foram as verdadeiras motivações que dirigiram o meu coração nos tempos de namoro e noivado; percebi e concordei que a Palavra de Deus tem razão quando insiste: “ Filho meu, ouve o ensino de teu pai, e não deixes a instrução de tua mãe… ata-os perpetuamente ao teu coração, pendura-os ao teu pescoço…. e não escutei a voz dos que me ensinavam…” (Provérbios 1:8; 6:21; 5:13). Compreendi os porquês de ter, voluntariamente, (ora, ninguém me obrigou a nada!) feito o casamento que fiz, e se tornou óbvio que não poderia haver colheita diferente das sementes que haviam sido plantadas.
Normalmente os familiares e amigos procuram identificar os culpados pelo fim de um casamento. Ele ou ela? Tenho convicção de que ambos são culpados. “Andarão dois juntos se não houver entre eles acordo?” (Amós 3:3) Pode até não ter havido uma avaliação da qualidade do acordo). Mas não importam os fatos concretos ocorridos, as razões que levaram a eles. Ambos são responsáveis pelas escolhas que fizeram no seu dia-a-dia.
E foi muito libertador assumir diante do Senhor toda a minha responsabilidade pelas minhas escolhas do passado. Tamanha foi a paz diante do perdão recebido. Tenho convicção de que uma das ações que Deus se agrada que tomemos é assumirmos quem somos e o que fazemos. E mais, reconhecermos que as instruções deixadas por Ele na sua Palavra são a verdade a que precisávamos ter dado mais atenção.
Muitas pessoas, quando se separam , estão tão preocupadas em apontar uma situação, ou alguém pela sua desgraça que se esquecem de olhar para dentro de si mesmas e recomeçar uma nova vida a partir desse lugar e na Presença do Senhor Jesus. Ora, será difícil entender que Ele está sempre pronto a nos mostrar o caminho em que devemos andar? Ou talvez, a pergunta seja: queremos mesmo andar no caminho que o Senhor quer que andemos? Devemos nos lembrar que os Caminhos dEle são mais altos que os nossos.
E talvez demande algum esforço, empenho, busca, renúncias de conceitos e preconceitos de vida para que a Palavra de Deus molde nossos sonhos, desejos, projetos, emoções, mente e coração.
Dessa maneira considero as seguintes atitudes como passos iniciais para um bom recomeço, lembrando sempre que cada um de nós deve percorrer o seu caminho, através de Jesus, até o trono da Graça para receber Graça e Misericórdia para o socorro que precisa:
1. Quatro perguntas que podem ser somente as primeiras :
Quem era o (a)……………………………… quando conheceu a (o)……………….?
Quais eram as motivações que estavam no meu coração naquela época??
Por que eu escolhi o (a)………………… para me casar com ela (ele)?
O que eu estava buscando na vida que pensei que talvez ela ( ele ) pudesse me dar?
Estas respostas nos ajudarão a assumir a nossa responsabilidade, criando uma situação que é um canal pronto para a confissão e o perdão restaurador de Deus.
2. Debrucei-me sobre a Bíblia para encher meu coração de Palavra de Deus e assim tirar os meus sentimentos de culpa e vergonha do foco principal, colocando na minha mente a Palavra daquele que é Fiel. Decidi buscar no livro de Salmos a resposta para a pergunta: Quem é o meu Deus e o que Ele quer fazer por mim? E ao mesmo tempo comecei a ler Provérbios. Queria orientações práticas para o meu dia-a-dia. Passei a desejar sabedoria, entendimento, compreensão (Pv. 2: 2-5) de todas as realidades ao meu redor, para tomar as decisões que agradassem ao meu Deus. A palavra de Deus é sempre clara. Ela não traz confusão a nossa mente.
3. Adquiri dois livros que me ajudaram a compreender a mim mesma:
• “Culpa e Graça” – Paul Tournier – ABU Editora: este livro fala das falsas culpas que pesam sobre nós e fala da culpa real que é preciso ser encarada de frente, mas através da cruz de Jesus.
• “Auto-estima” – Nathaniel Branden – Editora Saraiva- o autor propõe exercícios práticos que nos ajudam a identificar situações dolorosas que todos vivemos um dia, mas que alguns ainda sofrem por elas hoje. A separação deixa um sentimento de frustração enorme e, às vezes, a auto-estima acaba debaixo da lata de lixo.
Ainda estou no caminho. A soberania de Deus se faz presente na nossa vida mostrando que Ele pode transformar os fatos dolorosos, em fatos geradores de nova vida com Ele. E isto é essencial. É prioridade. A Presença de Jesus, buscar sua presença, não tomar nenhuma decisão sem ter convicção da vontade do Senhor para cada dia. Lembrar-se sempre de que, na maioria das vezes, há crianças envolvidas em toda esta confusão criada por nós mesmos e elas precisam de amor verdadeiro, disciplina bíblica, carinho, afeto, atenção. E, se nós não buscarmos na Fonte Eterna, o que temos dentro de nós logo se esgotará e o desgaste emocional, as irritações, o estresse não precisarão de muito tempo para ter o controle do que sobrou.
Se colocarmos o que sobrou nas mãos do Senhor, Ele dará nova vida, e fará coisas que olhos ainda não viram, nem ouvidos ouviram, por aqueles que descansam, e enquanto descansam, esperam Nele.