Criando filhos em pé de igualdade
Respeitar a individualidade e a personalidade de seus filhos é fundamental para o relacionamento bem-sucedido entre irmãos.
Há um ditado popular que diz que ser mãe é “padecer no paraíso”, ao que um amigo acrescentou: “padecer no paraíso, fibra por fibra”. Portanto, o relacionamento familiar bem-sucedido se inicia com a consciência de que ter filhos significa lutar (Salmo 127.4), seguir uma carreira, realizar um trabalho com dignidade, amor e prazer, pela vida afora. Os pais devem demonstrar seu zelo na vida diária de modo prático, oferecendo elementos básicos para a subsistência – alimento, roupa, abrigo, lazer, amor, afeto e qualidade de tempo – distribuídos diariamente e ao longo dos anos.
Os pais devem concentrar suas energias e esforços para criar cada um de seus filhos no temor do Senhor, ensinando-os diariamente a amar a Deus e conduzindo-os à Salvação. O comentarista da Bíblia de Estudo Pentecostal aborda no estudo Pais e filhos alguns pontos essenciais que corroboram para o sucesso no relacionamento familiar:
Os pais devem ser exemplos de vida e conduta cristã e se importar mais com a salvação dos filhos do que com seu emprego, profissão, trabalho na igreja ou posição social (Salmo 127.3).
A essência da educação cristã dos filhos consiste nos pais se voltarem para o coração dos filhos a fim de levá-los ao coração do Salvador.
Levar os filhos diante de Deus em intercessão constante e fervorosa (Efésios 6.18 e Tiago 5.16-18).
Ter amor e desvelo pelos filhos de modo que estejam dispostos a consumir suas vidas como um sacrifício ao Senhor.
Essas diretrizes são de suma importância na condução dos filhos, pois quando se direciona a criança verticalmente (voltada para Deus), se torna fácil o relacionamento horizontal com seus irmãos, pais, amigos etc.
Ana foi uma mulher exemplar no tocante a aprender que os filhos são dádivas do Senhor (Salmo 127.3). Esse conhecimento influenciou no modo de educar seus filhos. Ana entregou Samuel ao Senhor sem superproteção materna, com agradecimento pela bênção que recebera por ter sido agraciada com “uma herança do Senhor”. Sua soberania, fé e obediência agradaram tanto ao Senhor que Ele a agraciou com mais cinco filhos (1 Samuel 2.21). O Senhor sabia que ela e Elcana os criariam bem, por isso encheu-lhes a “aljava” (Salmo 127.3-5).
“Os filhos são como flechas na mão do valente”, Salmo 127.4. Cada flecha é única. Portanto, cada filho é único. Segundo Içami Tiba, psiquiatra e psicodramatista, “o grande sonho dos pais é que os filhos sejam felizes e unidos como unha a carne”. Por isso, acreditam que se os criarem iguais, eles serão bem-sucedidos no relacionamento. Ledo engano, pois aí sim é que se instala a rivalidade entre irmãos, as disputas pela igualdade de condições e, até mesmo, a anulação da personalidade a ser desenvolvida.
Cada flecha é única. Tem que ser lapidada e bem afiada para que o alvo seja atingido. Para cada flecha há uma determinada direção. Embora seja sempre para frente, para um determinado alvo, o modo como esse ponto é atingido é único. Assim, cada filho tem um temperamento, que lhe é peculiar, e características distintas que devem ser observadas, avaliadas e incentivadas.
Se um filho não se importa com roupas e calçados, mas, sim, com leitura e música, o seu incentivo deve ser nessa área. Embora os pais o supram no vestuário, devem lhe dar maior atenção na compra de bons livros, no incentivo à aprendizagem de algum instrumento musical, adequando assim suas necessidades. Se o outro filho tem tendências a um guarda-roupa cheio, talvez seja importante lhe ensinar a comprar com qualidade e economia. De qualquer forma, o incentivo é diferente. Em ambos os casos, a motivação deve ser a mesma e direcionada à busca do equilíbrio (sem exageros e administrando a preferência). Cada filho, portanto, deve ser tratado como único, de forma individual, não comparativa.
Evite comparações
Isso é compreensível para o bom andamento do lar. A comparação é complicada. Sempre um sai ganhando e outro perdendo, principalmente quando não há ensino a respeito. Os elogios são bem-vindos desde que não se constranja os demais: “não sei porque este é tão abençoado e aquele ‘tribuloso'”. Filho nenhum é “tribuloso”. A criança ou o jovem pode estar com problemas, e não ser um problema. Isso deve ser avaliado de forma única pelos pais, para que tomem a decisão certa para auxiliá-lo.
Às vezes, os pais instigam os filhos à rivalidade e disputa com suas comparações que geralmente têm origem no seu background. Veja o exemplo de Jacó e Esaú. Provavelmente Rebeca se ressentia da ênfase que se dava à primogenitura, da preferência de Isaque por Esaú, que era um caçador (Gênesis 25.28). Da mesma forma, Isaque se identificava com Esaú, pois foi através da caça de um cordeiro que Deus providenciara a Abraão que ele foi salvo da morte de sacrifício.
O preferencialismo instalado nessa família gerou conflitos e hostilidades tais que os irmãos se dividiram formando dois povos distintos: os edonitas, de Esaú; e os israelitas, de Jacó (Números 20.14-21), tal se ascendeu a ira de Esaú sobre Jacó, intentando matá-lo.
Importante é destacar que ao incentivar Jacó a tomar o lugar de Esaú, Rebeca estava corrompendo seu filho, ensinando-lhe a olhar para a ganância e não para o Senhor. Rebeca, já em idade avançada, se tornou imprudente de tal forma que até Jacó assim lhe respondeu: “Eis que Esaú, meu irmão, é varão cabeludo, e eu, varão liso. Porventura, me apalpará o meu pai e serei, a seus olhos, enganador; assim, trarei eu sobre mim maldição e não bênção”. Mas Rebeca insistiu: “Meu filho, sobre mim seja a tua maldição; somente obedeça a minha voz, e vai, e traze-mos”, Gênesis 27.11-13.
Segundo pastor Donald Stamps, em nota bíblica, “Rebeca e Jacó (mãe e filho) tentaram realizar os propósitos de concerto divino (Gênesis 25.23) mediante astúcia e trapaça”. Rebeca perdera a fé, deixara de exercitar a obediência a Deus e ao marido e estava rejeitando a bênção de Deus quando pediu a maldição para si. Rebeca sofreu grandemente, pois Jacó teve que fugir e ela nunca mais o viu. E pode-se imaginar o amargor que Esaú alimentou durante muito tempo: mágoas profundas contra seu irmão e sua mãe.
A vida fugitiva de Jacó só se aliviou quando o Senhor interferiu para a reconciliação dos dois irmãos (Gênesis 32 e 33). Foi tão grande o alívio de Jacó que ele disse ao seu irmão: “Porquanto tenho visto o teu rosto, como se tivesse visto o rosto de Deus; e tomaste contentamento em mim”, Gênesis 33.10. “E disse: caminhemos e andemos…”, Gênesis 33.12.
Irmãos devem caminhar e andar juntos. Por isso, as individualidades devem ser respeitadas. E os pais devem incentivar os filhos ao amor e à bênção. Um irmão deve se alegrar pelo sucesso do outro. E foi isso que Esaú fez quando foi tocado por Deus.
Preservando o relacionamento entre irmãos
Atente para a individualidade de cada filho respeitando seus limites, valorizando suas virtudes, aplicando-lhes o respeito e a disciplina;
Reflitam sobre suas origens de criação, estabeleçam os pontos de sucesso a serem seguidos, avaliem os fracassos, aprendendo com eles e evitando-os. José, filho de Jacó, foi assim: quebrou vários mitos familiares. Parar, ouvir, pensar e agir tornam mais eficaz o sucesso nos relacionamentos;
Trabalhe com seus filhos dentro da ética e disciplina para que a criança forme a auto-estima favorável. Superproteção só diminui a estima, e a valorização da auto-imagem se perde no seio materno;
O respeito deve ser incentivado desde a terna infância para que não desencadeie inversão de valores. A hierarquia bíblica é o modelo;
Falar e viver a verdade. Sempre se questionar: Qual é a verdade nesta situação? Estou tendencioso(a)? Por quê? (João 8.32; 14.6);
Os pais devem falar a mesma linguagem. Troquem idéias antes de tomar decisões e até mesmo impor limites ou aplicar disciplina. Com o tempo essa atitude se torna mais fácil;
Incentive o afeto familiar. O clima afetivo de família, de auxílio mútuo e em conjunto, reforça o sentimento de pertencer e nutre a auto-estima;
Não comparar o filho a outrem. Cada um tem a sua própria identidade. Se houver referência à qualidade do outro, faça-o como incentivo àquele comportamento que pode ser aprendido e não desvalorizado;
Brigas devem ser evitadas. permita que dialoguem com racionalidade e, se não chegarem a uma conclusão, incentive-os à reflexão e comunhão;
Se um ferir o outro com palavras, gestos ou fisicamente, leve-os a se retratarem e buscarem o perdão.
Fonte: CPAD
Por, Sônia Scaff (Psicóloga)