Tradições

Dezesseis de dezembro de 1983 – o dia em que aprouve ao nosso amoroso Pai premiar meu marido, levando-o para junto de si.

Como Jó (Jó 42:8) eu conhecia Deus mais de ouvir falar, apesar de ter aceitado a Jesus como Salvador e Senhor há 28 anos e ser bem ativa na Igreja; agora teria de vivenciá-lo. Teria de recostar minha cabeça em Seu ombro forte e, quando ameaçada, segurar Suas mãos e apoiar-me em Seu braço, como fiz por trinta anos de vida em comum com meu marido.

Como as casadas sabem pouco do mundo das viúvas apesar de os homens, também, nada saberem de seu próprio futuro quando ficam sós. As Igrejas, às vezes, esperam muito de seus filhos, esquecendo-se de que não somos só espírito, esta parte mais forte de nós que é nossa ligação com Deus, mas somos almas, parte frágil, com emoções fortes, influenciadas pelo mundo e que podem se desestruturar quando enfrentam algo, como a perda, e os sofrimentos que dela advêm. Somos, também, corpo que padece quando não é corretamente sustentado pelas outras duas partes. Por isso Paulo, em I Tessalonicenses 5:23, nos fala que somente o Deus da Paz pode nos santificar e conservar íntegros nosso espírito, alma e corpo.

Dezesseis de dezembro – oito dias antes do Natal. Será que conseguirei sobreviver a esta data, despedaçada como estou? E mais uma e mais uma… quantos Natais mais terei que sofrer? Haverá ainda o Ano Novo, a Páscoa, o Aniversário de seu nascimento, o de sua morte, férias, festas, jantares, passeios, dias, noites, só, sempre só… Quantos anos mais?

É esse o amor do Deus em quem sempre acreditei? Que situação tão ambígua! Ás vezes Ele parece perto e palpável, mas outras tão distante e indiferente. Não diz Sua Palavra que “todas as cousas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rom.8:28). Será que estive enganada e Deus nunca me amou? Como é complicada a cabeça da viúva, cheia de dúvidas, confusões, incongruências… Não comecei dizendo que Deus é amoroso e premiou meu marido? Somos tão egoístas. Pensava só em mim e não nas alegrias que meu marido deve estar usufruindo na presença do Senhor.

Eu, também, amo a Deus, mas será que o amor d’Ele por mim é menor do que o que dedica a meu marido? Certamente que não.

Dezesseis anos é um bocado de tempo, mas é o que Deus me tem dado para conhecê-lo melhor e compreender e aceitar seu plano total para mim. Tempo para aprender a “contar as bênçãos” como diz o antigo hino e chegar à conclusão de que não consigo mais contá-las, tantas são. Foi um tempo para compreender que o verdadeiro amor não se acaba e nem se divide, mas se multiplica e quanto mais amamos, mais ele aumenta e mais de nós deixamos por onde passamos.

Dizem que Natal é festa da família – estão certos – mas quem é nossa família? É principalmente a que Deus preparou para nós aqui na terra e que quando é de sangue, também, torna-se realmente completa. Família, entretanto, não é uma organização estática, pois está sempre mudando. Chegam novos membros e partem outros por diversos motivos. Mas, mesmo neste eterno mudar, há dois elementos constantes que unem seus membros – a tradição e o amor.

Toda família tem suas tradições e estas, também, não são estáticas, vão através dos tempos sendo substituídas por novas, enquanto as antigas vão formando nossa memória e mantendo as belas recordações do passado, quando tantos amados ainda estavam conosco.

O amor não acaba com a partida dos que amamos, apenas torna-se diferente. O segredo é não chorarmos pelo que perdemos mas agradecermos a Deus pelo que tivemos, ou seria melhor jamais termos tido momentos de carinho e amor só para não sofrermos agora? Por que não fazer, como sempre fez, no dia do aniversário de seu amado aquele bolo de que ele tanto gostava e, em lugar de chorar sobre ele, lembrar-se das alegrias que então compartilhavam, ou de momentos hilários do passado, convidando novos amigos para participarem dessas suas lembranças. Imagine como seria triste pensar que quando se for ninguém se lembrará de você.

Pensar que sua família viverá amargurada o resto de seus dias, também não é um pensamento agradável. Eclesiastes 3:1-8 nos diz que há tempo para tudo, tivemos nosso tempo de chorar, agora temos o nosso tempo de voltar a viver, alegrar-nos, planejar nossas vidas futuras e formar novas tradições que irão manter unida a família, lembrando-se de que só não tem família quem não o desejar, pois Deus preparou uma maravilhosa para seus filhos. Envolva-se, ame, faça novas amizades, compartilhe, ajude, lembrando-se de que:

Quando fazemos algo para alguém, ajudamos, mas quando fazemos algo com alguém, envolvendo-nos, somos ajudadas.”

Por: Oneida Green de Almeida

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